sábado, 23 de agosto de 2008


Tiago Sobreira de Santana (Crato CE 1966). Fotógrafo. Estuda engenharia mecânica na Universidade Federal do Ceará - UFCE, em Fortaleza, mas não conclui o curso. Em 1986, participa da oficina ministrada por Stefania Bril (1922 - 1992) na 5ª Semana Nacional de Fotografia de Curitiba e, no ano seguinte, da oficina oferecida por Claudio Feijó (1946) na 6ª Semana Nacional de Fotografia, em Ouro Preto, Minas Gerais. Atua como profissional desde 1989 nas áreas de fotojornalismo e documentação. Em Fortaleza, coordena a 1ª e a 2ª Semana de Fotografia do Ceará, em 1989 e 1990, e, em 1993, participa da criação do grupo Dependentes da Luz. Em seguida, funda com Celso Oliveira (1957) a editora e fotoarquivo Tempo d'Imagem. Seu trabalho documental se concentra nas tradições culturais e nas festas populares do Nordeste, dedicado sobretudo ao registro da peregrinação de fiéis a Juazeiro do Norte, Ceará. Em 1994, é contemplado com a Bolsa Vitae de Artes, para a conclusão do ensaio Benditos, que dá origem ao livro homônimo, lançado em 2001, e à sua primeira mostra individual, realizada no Sesc Pompéia, em São Paulo. Em 1995, recebe o Prêmio Marc Ferrez de Fotografia da Fundação Nacional de Arte - Funarte. No fim da década de 1990, com Celso Oliveira, Antonio Augusto Fontes (1948), Ed Viggiani (1958) e Elza Lima (1952), desenvolve o projeto Brasil sem Fronteiras, documentação das cidades fronteiriças do oeste do país. Santana vive entre Fortaleza e Rio de Janeiro, onde mantém uma filial da editora Tempo d'Imagem.
O trabalho de Tiago Santana é pautado em noções de identidade cultural e denúncia social. O fotógrafo dedica-se sobretudo ao registro em preto-e-branco de festas religiosas e tradições populares do Nordeste do Brasil. De 1992 a 1999, realiza o ensaio Benditos, sobre a peregrinação de milhares de fiéis à cidade cearense de Juazeiro do Norte, para onde se deslocam todos os anos os romeiros devotos de padre Cícero.
No fotodocumentarismo, diferente do trabalho para jornais ou revistas, o fotógrafo escolhe o assunto que deseja registrar e o tempo disponível para a produção das imagens e procura conferir uma visão pessoal ao tema. Esse tipo de ensaio informa tanto a respeito do referente quanto sobre o modo como o artista percebe e organiza os elementos da vida real no visor da câmera.
No ensaio sobre os romeiros, Santana enfatiza o caráter emotivo das procissões centrando seu olhar na relação das pessoas com os ícones religiosos. Confere imponência aos fiéis e aos santos enfocando-os de baixo para cima com a lente grande angular, que amplia as figuras que estão em primeiro plano bem como a sensação de distância entre os objetos. Também enfatiza a dimensão subjetiva de suas fotos fragmentando corpos e trabalhando com grandes áreas vazias, que, freqüentemente, realçam a noção de solidão e de esforço dos devotos.

Um comentário:

Marcos Vieira disse...

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CHICO ALBUQUERQUE

Célia Mello
Mestre em Comunicações e Artes pela ECA USP

Nasceu em Fortaleza, Ceará, em 1917, e morreu em 2000, na mesma cidade. Iniciou
sua carreira fotográfica em sua terra natal, por influência do seu pai que montou um
estúdio onde ele começou a trabalhar como fotógrafo. Conheceu e trabalhou com
Orson Welles, quando este esteve no Brasil filmando "It’s all True" (1942). Sobre ele,
Chico Albuquerque comentou:

"Orson Welles era um homem genial, boêmio e desorganizado. Aproveitei bastante
sua estada no Brasil. Naquela época, eu fotografava sem noção de composição
fotográfica. Foi ele que ensinou. Antes de fazer uma tomada ele riscava num papel o
que ele queria. Fazia a divisão do retângulo. Vi então que era necessário ter uma
noção de estética para fotografar direito." (1)

"…uma vez, um teórico da fotografia, até de forma pejorativa, disse que havia muito
de Orson Welles em minhas fotos. É claro que tem. Todos somos influenciados por
outras pessoas. Ninguém cria nada do nada". (2)

Mudouse para São Paulo em 1945, onde participou como um dos diretores do Foto
Cine Clube Bandeirante. Em 1948, foi o primeiro fotógrafo a fotografar para uma
campanha publicitária ilustrada com fotografia (3): um anúncio da Johnson &
Johnson criado pela J. W. Thompson. Em seguida tornase fotógrafo publicitário e
comenta: "éramos chamados de fotógrafosilustradores" (4).

Ainda lembra:

"o tempo em que os anúncios eram divididos em duas ‘estampas’: o produto,
geralmente uma ilustração, e a fotografia de uma modelo americana". (5)

Nos anos 50, primórdios do crescimento e desenvolvimento industrial de São Paulo,
Chico Albuquerque, com um dos estúdios mais bem equipados e modernos da cidade,
fotografou personalidades da sociedade paulistana e artistas nacionais, deixando um
arquivo iconográfico sobre essa época da nossa história tecnológica e sociocultural.
Entre esses artistas temos as fotografias de Aldemir Martins, Mário Cravo e Victor
Brecheret. Os três artistas plásticos são internacionalmente reconhecidos.

Na fotografia 1 temos o retrato de Aldemir Martins, cearense, um dos representantes
da pintura brasileira. O seu retrato foi feito em estúdio, em 1950, época em que o
artista tinha 28 anos e já se sobressaía em sua carreira artística dando aulas e
ganhando prêmios. Nesse período em que a cidade de São Paulo começava a destacar
se socioculturalmente dos outros centros urbanos, Aldemir Martins ministra um curso
de gravura no Museu de Arte de São Paulo – MASP, recéminaugurado, e também
recebe uma medalha de bronze expondo no II Salão Baiano. (6)





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Podemos identificar neste retrato recursos técnicos e estéticos decorrentes da imagem
daquele período. O tradicional retrato feito em estúdio deixanos a nostalgia de uma
época em que a fotografia começava a ser mais usada e valorizada no País.

Na fotografia 2 temos o retrato do artista plástico Mário Cravo, baiano, um dos
representantes da escultura e gravura no País. O retrato foi tirado em 1950, quando o
artista estava com 27 anos. Esse retrato representa um fragmento da memória da vida
de Mário Cravo que constrói, nesse período, sua primeira fase de escultor e desponta
como um inovador na escultura, pelas pesquisas de arte popular e erudita que realizou
no Norte e Nordeste do Brasil.(7) Ele e um grupo de artistas impulsionaram o
movimento de arte moderna na Bahia e renovaram a arte plástica em Salvador.

O enquadramento fechado em seu rosto destaca seu olhar expressivo e inquieto, como
sua personalidade, que busca através dos temas nacionais de mitos e deuses do
homem brasileiro e baiano a sua forma de expressarse.

Na fotografia 3 temos o retrato do escultor Victor Brecheret, paulistano, um dos
principais escultores do País. Ele participou de alguns movimentos artísticos, entre os
quais a Semana de Arte Moderna (8), mas sempre mantendo um estilo próprio. Em
1954, um ano antes de sua morte, Victor Brecheret posa para as lentes de Chico
Albuquerque, em seu ateliê. Os anos 50 foram muito profícuos culturalmente para o
Brasil e também para Victor Brecheret que valoriza e retrata a arte indígena (9),
dando origem ao "período brasileiro" em sua carreira. É uma das fases em que
descobre a cultura indígena e a interpreta em suas esculturas, entre elas "O Índio e a
Suassuapara". Victor Brecheret deixou importantes monumentos na cidade de São
Paulo, como o "Monumento às Bandeiras", construído no Parque do Ibirapuera,
marco do desenvolvimento de São Paulo. Victor Brecheret foi reconhecido
internacionalmente como escultor.

Esta imagem resgata um instante precioso da intimidade da vida deste artista em seu
ateliê ao lado de suas obras. Seu olhar revela a maturidade de quem chegou ao ápice
de sua expressão na escultura, valorizando assim a cultura brasileira.

As três fotografias de Chico Albuquerque recordam o momento mágico na
interpretação de um fotógrafo de artistas plásticos cujos trabalhos também interpretam
o mundo através de outros suportes.


Notas:

1 PERSICHETTI, Simonetta. Imagens da fotografia brasileira. São Paulo, Estação Liberdade, 1997,
pp.197/201.

2 Idem, ibidem, pp.194/201.

3 Id., ibid., p. 198.

4 SCAVONE, Márcio. Revista Irisfoto, São Paulo, ed. Especial n. 500, pp. 3032, 1997.

5 Idem, ibidem, p. 32.

6 MARTINS, Aldemir. São Paulo, Galeria de Arte André, 1987, p. 14. Catálogo.



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7 CRAVO, Mário. Linha, forma e volume 1984/1994. Bahia, Núcleo de Artes do Desenbanco, 1984.
Catálogo.

8 BRECHERET, Victor. 1894/1955. Rio de Janeiro, Renavan, 1989, p. 6. Victor Brecheret não estava
presente, mas participou da Semana de Arte Moderna com 12 esculturas por ele selecionadas, no
Teatro Municipal de São Paulo.

9 Idem. ibidem, p.7.


























































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